Mesmo a educação financeira já sendo trabalhada em algumas regiões específicas, a nova BNCC, que entra em vigor em 2020, incluiu a temática como obrigatória no ensino básico, contribuindo para suprir uma antiga demanda social. A educação financeira não é em si uma matéria, foi incluída como conteúdo transversal devendo estar incluída nas diversas áreas de conhecimento, de modo interdisciplinar.
Mas então, o que é educação financeira?
Para compreendermos o que é educação financeira primeiramente precisamos
entender que ela não é a mesma coisa que “matemática financeira”. Mas como assim?
Bem, a matemática financeira trata-se do estudo de tudo ligado ao dinheiro, como investimentos, juros, dívidas. Já a educação financeira está relacionada a formação dos sujeitos, voltada para o desenvolvimento de um consumo consciente e responsável através da mudança da relação com as próprias noções de investimento. Ou seja, aprender a consumir melhor para poder se planejar a longo prazo, portanto, trata-se de uma educação
que permite ao sujeito gerir a própria vida, uma das competências propostas na própria BNCC.
E por que trabalhar a educação financeira nas escolas?
Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
(CNC), o número de famílias endividadas chegou a 64,8% em agosto deste ano, um
aumento comparado às pesquisas anteriores. A principal forma de endividamento, segundo a pesquisa, é devido o cartão de crédito, seguido do cheque especial, portanto, dívidas que envolvem diretamente as taxas de juros. Se analisarmos esses dados junto a Pesquisa Global de Educação Financeira feita em 2015 em que o Brasil apareceu como o 74ª país a investir em educação financeira, atrás de países extremamente pobres como o Zimbábue, podemos compreender o porquê desse alto índice de pessoas endividadas.
O fato é que precisamos de educação financeira para mudarmos esse cenário, e em um país como o Brasil em que falar de dinheiro chega a ser um tabu, tratar do assunto em sala de aula, espaço em que as pessoas passam boa parte de suas vidas, é uma boa alternativa para mudarmos essa realidade de descontroles financeiros.
Mas então, como aplicar a educação financeira?
Para pensarmos uma educação financeira que seja de fato aplicável e acessível,
precisamos nos voltar para a realidade dos alunos. Não se trata de ensiná-los a realizar transações financeiras complexas (isso fica para o futuro), mas sim de ajudá-los a desenvolver ações mais conscientes e a terem atitudes mais responsáveis ao longo da vida.
E como podemos fazer isso? Algumas possibilidades são:
1- Trabalhe com planejamentos. Exemplo: fazendo listas.
Ao fazer listas, as crianças podem desenvolver desde cedo o senso de organização, comparação de preços, economia, além de diminuir o desperdício, pois a ideia seria adquirir/realizar o que está na lista. Portanto, ao fazer uma lista de compras, ou planejar um evento fictício, é possível que o aluno pesquise e visualize o preço das coisas, e a ideia de valor pode ser trabalhada em cima disso.
2 - Trabalhe com a noção de valor
Preço e valor são coisas diferentes. Quando trabalhamos com a ideia de valor, pensamos em todo o processo, os desafios e dificuldades que levaram a atenção de determinada coisa. Uma criança não vê esses processos, ela vê o resultado final. É importante abordarmos esses passos anteriores para que ela desenvolva essa noção de valor.
3- Trabalhe com a ideia de Necessidade.
Antes de consumir/comprar algo é sempre importante pensar, “eu realmente preciso disso, ou eu desejo isso?”. Desejo é diferente de necessidade, e para pensar sobre isso, é possível trabalhar com a lógica dos 5Rs: Repensar, Reduzir, Recusar, Reutilizar, Reciclar - utilizada na educação ambiental e totalmente alinhada à ideia de um consumo mais consciente e sustentável. Essa prática evita o imediatismo, e no futuro, pode contribuir para evitar que essa pessoa contraia dívidas e necessárias.
4- Trabalhe com metas
Para pensar metas precisamos estabelecer quais são as de curto, médio e longo
prazo. Pensar em metas é também pensar em prazos, em tempo. Portanto, o que eu preciso fazer para conseguir tal coisa em determinado tempo? Pensar isso possibilita o planejamento a longo prazo, sendo útil para questões além das materiais.
E como trabalhar a educação financeira nas escolas se os próprios educadores não possuem essa formação?
Essa é uma das grandes questões relacionadas a educação financeira nas escolas. O fato da temática estar presente na BNCC não significa que os profissionais da educação estejam preparados para ensiná-la. Investir na capacitação dos professores é algo extremamente importante para que esse assunto tão importante não fique apenas no meio simbólico.
Existem alguns materiais didáticos, canais, podcasts que podem auxiliar nesse
processo. A Associação de Educação Financeira do Brasil, desenvolveu o Programa de Educação Financeira nas Escolas, uma coleção de livros do ensino fundamental ao médio com um conteúdo super didático, que inclui várias estratégias e atividades práticas para trabalhar o assunto com os alunos, material que inclusive contribuiu para este texto.
Além desses livros, o canal no youtube MePoupe! da Nathalia Arcuri também é um
ótimo recurso que além ajudar a poupar dinheiro, também possibilita que as pessoas tornem-se investidoras, podendo ajudar a vida financeira dos próprios professores. Outro caminho é o podcast DinheiramaCast, que aborda temáticas relacionadas a mudanças de hábitos e finanças. Claro que existem outros recursos, esses são apenas alguns para ajudar a iniciar no assunto, e facilitar um pouco mais na trajetória didática da educação financeira.
Milena Souza Oliveira é licenciada e bacharela em História, professora na educação básica, mestranda em Educação pela UFOP e cursa Gestão Escolar em nível de especialização.
Entusiasta em aprender novas formas de ensino-aprendizagem.
LinkedIn: https://www.linkedin.com/in/oliveira-milena/
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