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Havia um PBL no meio do caminho... no meio do caminho havia um PBL

No início dos anos 2000, quando fazia a licenciatura em espanhol, tive a honra de ser aluna da Professora Gretel Eres Fernandes, na disciplina Metodologia do Ensino de Espanhol. Até hoje suas aulas influenciam minha prática profissional, apesar de não dar aula de espanhol há uma década.


Um de seus principais ensinamentos era que, como professores de idiomas, fôssemos também alunos, para sentir na pele o que nossos alunos passavam e buscar caminhos que facilitassem a aprendizagem, nossas experiências que pudessem ser compartilhadas com os estudantes.


Minha formação em Design Instrucional foi em um curso EAD. Era o ano de 2015 e eu queria aprender a estudar de uma forma diferente, mais adequada à minha rotina e à proposta do curso. Vivenciei pela primeira vez um curso 100% online aprendendo a ter disciplina nos estudos e criatividade para otimizar o potencial do curso. Naquela oportunidade, já tive alguns insights que me ajudaram na minha vida profissional como designer instrucional.


Mas foi no Mercado EAD, no curso Design Instrucional na Prática, em 2020, que pude colocar a “mão na massa” e praticar aspectos que eram muito importantes do design instrucional, mas que ficaram latentes em minha formação por eu ter visto somente a teoria.


Em 2021, no período da pandemia, percebi ser importante buscar um novo conhecimento que poderia me ajudar como designer instrucional: a Gestão de Projetos. Um MBA em uma renomada instituição foi minha opção, porque seria mais seguro e eu teria mais oportunidades de aprendizagem.


A instituição está trabalhando conceitos além do meu curso, e estou aprendendo também sobre Design Instrucional. Minhas melhores experiências de aprendizagem têm sido com o PBL (Problem-Based Learning). Como designer instrucional eu havia lido alguns artigos sobre a metodologia, mas nunca havia vivenciado nenhuma vez sua aplicação.



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O PBL (Problem-Based Learning), em português, Aprendizagem Baseada em Problemas, é uma metodologia ativa cujo primeiro registro de Problem-Based Learning data de 1964, no Canadá (Universidade de Mcmaster) e na Holanda (Universidade de Maastricht), em cursos de medicina. Posteriormente, o PBL foi adotado também em cursos de arquitetura, engenharia, direito e negócios. Assim, como no Canadá e na Holanda, no Brasil, a metodologia foi aplicada pela primeira vez em 1997, em um curso de medicina, pela Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA). Atualmente, é utilizada no ensino superior em vários cursos e também no ensino corporativo.


A principal característica do PBL é a participação ativa do estudante na aprendizagem. Esse tipo de metodologia permite que ele pesquise, reflita, dê significado e relacione o conteúdo da disciplina ao problema proposto. Silva e Dejuste (2009, p.1) destacam que “é não é necessário que o aluno tenha conhecimentos prévios acerca do tema a ser estudado, pois tais conhecimentos serão desenvolvidos e criados conforme sua evolução no decorrer das atividades”.


Outro importante ganho para o estudante é a oportunidade de trabalhar suas soft skills, habilidades que atualmente têm ganhado espaço na formação e aperfeiçoamento profissional. As experiências ao longo da elaboração da solução do PBL de um trabalho em grupo, como lidar com diferentes perfis de pessoas, ouvir e argumentar, além de conciliar opiniões, enriquecem a aprendizagem e a tornam mais significativa.


Também vale destacar que essa metodologia abre espaço para soluções criativas de problemas, e a construção de um vínculo entre estudantes e professores tutores, importante fator para o sucesso dos estudantes no ensino a distância.


No curso de Gestão de Projetos da instituição de ensino na qual estudo, todas as disciplinas, logo em sua abertura, propõem um problema, que deverá ser pensado e uma solução é apresentada numa reunião on-line realizada na última semana da disciplina (as disciplinas têm duração de seis semanas). Alguns professores preferem que o grupo todo esteja presente; outros não fazem questão. São formadas equipes compostas por, no máximo, sete estudantes.


Nas primeiras disciplinas do curso, a formação dos grupos era feita de forma automática pelos professores. Agora, na segunda metade do curso, os próprios alunos se organizam e se inscrevem para participar da apresentação do PBL.


O problema proposto sempre se relaciona a uma empresa fictícia. O desenvolvimento da solução é realizado em sete etapas:

  1. Explicação dos conceitos;

  2. Identificação do problema;

  3. Exploração do problema e brainstorming;

  4. Sistematização dos aspectos trazidos no brainstorming;

  5. Elaboração dos objetivos de aprendizagem;

  6. Pesquisa;

  7. Discussão.

Dentro do contexto do curso aqui tratado, apesar de acrescentar apenas meio ponto na média final, a adesão ao PBL nas disciplinas tem sido superior a 60% das turmas, segundo conversas com quatro professores tutores. Como tenho apenas a visão do AVA como aluna, não foi possível confirmar com exatidão esse dado, pois há mais de uma turma nas apresentações. A instituição não fornece informações sobre as suas atividades avaliativas.


Estudar sobre o PBL e com essa metodologia me deu a oportunidade de refletir sobre a importância da relevância da realidade do estudante na aprendizagem. Na formação de gestores de projetos, que serão os profissionais que estarão na liderança das principais companhias do país em pouco tempo, esse tipo de formação crítica é convergente à proposta de Paulo Freire que Freitas e Freitas (2018, p.365) apresentam em “A construção do conhecimento a partir da realidade do educando”, destacando a “relação dialética entre as práticas sociais e o conhecimento, de tal maneira que os seres humanos assumam uma postura crítica e criativa frente ao mundo do qual fazem parte”. Indivíduos críticos e criativos, além disso, conseguem fazer uma leitura da realidade menos agressiva e preconceituosa, permitindo que eles exerçam sua cidadania de maneira plena.



Referências:


FREITAS, André Luís Castro de.; FREITAS, Luciane Albernaz de Araújo. A Construção do Conhecimento a partir da realidade social do educando. Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, v.22, n.1, p. 365-380, jan./abr., 2018 ISSN: 1519-9029. DOI:10.22633/rpge.v22.n.1.2018.10707. Disponível em: file:///C:/Users/David/Downloads/6-10707-29749-1-sp-formatado-2-mv.pdf. Acesso em 26/01/2021.


GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional. São Paulo: Objetiva, 1996.


FREZATTI, Fábio. Aprendizagem baseada em problemas (PBL) – Uma solução de aprendizagem na área de negócios. São Paulo: Atlas, 2018.


RIBEIRO, Luis Roberto. Aprendizagem baseada em problemas (PBL): uma experiência no ensino superior. São Carlos: SciELO – EdUFSCar, 2008.


SILVA, Viviane; DEJUSTE, Maria Tereza. A abordagem pbl e suas possibilidades no ensino da matemática. Anais do XIII INIC / IX EPG – UNIVAP – 2009. Disponível em: http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2009/anais/arquivos/0872_0685_01.pdf. Acesso em: 10/11/2021.





Educadora desde 2003, desde 2016 trabalha como designer instrucional. Atualmente, faz parte da equipe de Desenho Pedagógico da UNISA, em São Paulo. Tem graduação e licenciatura em Letras – Português – Espanhol pela FFLCH – USP, especialização em Design Instrucional pelo SENAC – SP e, atualmente, é aluna do MBA de Gestão de Projetos na FGV. É DI Kamikaze desde outubro de 2020.




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