O combinado era: pequenos testes semanais referentes aos conteúdos do trimestre. Esse foi o acordo com as minhas duas turmas do 2°ano do ensino médio. Mas quando corrigi o primeiro teste - Rene Descartes, era o filósofo da vez - tive a clara percepção de que não fazia sentido para a vida deles ter meras informações sobre o método cartesiano ou o que significava gênio maligno. Resolvi então, dar sentido ao que tínhamos estudado em sala.
Imagem Freepik
Foi assim que apresentei a ideia:
“René Descartes critica tudo aquilo que aprendeu na escola, porque sentia que não repousava em fundamentos ou princípios sólidos. Considera assim, que para possuir a certeza, o conhecimento deveria começar pela busca de princípios absolutamente seguros. O ponto de partida cartesiano para o problema do conhecimento seguro foi a aplicação de um método que permita conduzir bem a razão. Estabelece um método universal, inspirado no rigor da matemática e no encadeamento racional. Tal método possui quatro regras:
1° Regra da evidência, jamais aceitar algo que não seja evidente. Devemos evitar toda precipitação e todo preconceito;
2° Regra da análise, dividir o problema em partes para melhor resolvê-lo;
3° Regra da síntese, ordenar os pensamentos, de forma que parta dos problemas mais simples aos problemas de difícil resolução;
4° Regra da enumeração: fazer enumerações completas e revisões gerais para se ter a certeza de nada ter omitido.
As experiências nos mostram que ainda fazemos mau uso da razão. Um bom exemplo, são as notícias falsas, comumente chamadas de fake news.”
Diante desse cenário e com o propósito de aplicar a teoria filosófica de Descartes à vida prática, pedi aos meus alunos que pesquisassem, pelo menos três notícias, de cunho duvidoso/polêmico, divulgadas numa rede social específica. (facebook). Essa rede deveria ser de um dos integrantes do grupo (3 ou 4 membros). Depois que escolhessem as notícias, eles teriam que aplicar as quatro regras do método cartesiano para a verificação da autenticidade das notícias. Na sequência, iriam apresentar, em formato de seminário, o trabalho realizado na rede, acrescido das fotos (prints) das notícias escolhidas e da aplicação do método sobre elas.
Eles gostaram da ideia, mas ao longo do processo ficaram bastante inseguros quanto a aplicação do método. Precisariam colocar em prática o exercício reflexivo para uma boa análise e ainda teriam que lidar com os “amigos” da rede que poderiam não compreender que apenas produziam esclarecimentos. O fato é que essas questões nos renderam várias discussões sobre as notícias que traziam. Expliquei o trabalho a partir de vários modelos de investigação (outros sites de notícias, livros, pesquisas acadêmicas) e os acalmei sobre como “amigos” de suas redes receberiam as análises feitas por eles, afinal o que importa é a verdade de uma notícia e não a opinião enganosa que agrada.
Quando os resultados começaram a ser postados na rede, sem que houvéssemos combinado, eles foram me marcando também nas postagens. Não fazia ideia de como seria gratificante ver pais, amigos (meus e deles) percebendo o valor e a importância daquele trabalho tão esclarecedor.
No final do processo, todos aprendemos – a pesquisar e avaliar antes de repassar notícias; que existem infinitas formas de dar a aparência de verdadeira a uma notícia falsa e que quando nos dispomos a pensar um pouco sobre nossas ações tornamos este mundo um lugar melhor.