Quando a Carol me pediu um artigo, sabia que precisava sair do meu conforto e por pra fora tudo o que estava entalado me engasgando.
Mas como, sem sujar toda a mesa, o chão, o teto e todos a volta?
Bom, começo pela minha experiência em apoiar meus filhos de 14, 10 e 9 anos nos estudos e lições de casa, somada à minha volta ao estudo continuo. Se no meu aprendizado focado e escolhido acredito estar absorvendo uns 70-80% de conteúdo importante e “utilizável”, meus filhos já percebem que 80% do que aprendem não é e nem será prático em suas vidas. A geração deles já começam a se desinteressar pelos estudos com o conteúdo e a forma de ensino tradicional, o que é muito perigoso.
Comparando o que eu aprendi com o que aprendem, encontro algumas semelhanças mas diversas diferenças.
As semelhanças se baseiam na qualidade do mestre e na praticidade das disciplinas. Quando o professor cativa a turma e ensina com paixão e boa didática, naturalmente curtem qualquer assunto. Já quando a disciplina é prática, com trabalhos, pesquisas e apresentações, logo são admirados. E acontece a mágica: ELES APRENDEM!
Como diferenças cito uma grande: nos anos 80-90 aprendemos uma grade de conteúdo de maneira mais profunda. Hoje a grade é maior, mais diversa e muito menos profunda (desculpe-me os literários, mas por que tanta poesia?!!?, rs).
Esse desinteresse pelos estudos “que não servem para nada”, como eles mesmos radicalmente definem, somado a meta de passar no ENEM como objetivo máximo de uma vida a partir dos 14 anos, ponho então pra fora minha crítica ao sistema, com um monte de propostas de soluções e melhorias, claro.
Quem leu O Clube do Filme de David Gilmour? O livro fala sobre a experiência de um pai que encontra seu filho sem motivação nos estudos e querendo parar de ir a escola no ensino médio. Ele topa, desde que eles assistam e discutam 3 filmes por semana. É a oportunidade do pai ensinar algo ao filho que abandonou a escola e ainda se aproximarem nesse momento duro da adolescência (tô vivendo isso, é assim mesmo).
Então pensei: não vou consegui mudar a escola que vai continuar com seus métodos para ensinar conteúdo que servirá para passar em uma prova. Neste momento serão sepultados anos-aula dadas e assistidas. Caso o conteúdo específico seja usado na universidade, ou será ensinado de novo mais profundamente ou também terá sua validade estendida mais uns anos.
E a escola se mantendo assim, preciso fazer algo.
Proponho aos pais (e escolas, pelo amor de Deus) a criarem os CLUBES DA EDUCAÇÃO DO FUTURO. Falo aos pais instituírem aos filhos, mas aderir a um clube desses é benéfico em qualquer idade.
Entre os diversos abaixo, podemos aplicar todos ou alguns, como preferirem. Sendo algo atrativo, prático e com lição aprendida, certamente transformará os pequenos (e nós mesmos) em grandes cidadãos e profissionais acima da média.
Começamos por um CLUBE DO LIVRO. Escolha biografias, livros de história, ficção, fantasia e estabeleça uma meta mensal de leitura. Sejam 3, 6 ou 12 livros ao ano, combine a disciplina. Ao final ou com periodicidade intermediária, discutam as lições aprendidas. Estou lendo a biografia do Steve Jobs e esse artigo “brotou” com 100 páginas de leitura, quando percebo que o gênio era inconformado com o estudo inútil. Com esse clube certamente será desenvolvida disciplina, leitura, vocabulário, escrita criativa, prazer e habilidade na educação contínua.
Aqui podemos ter uma variação do CLUBE DO FILME como o de Gilmour. Semelhantemente ao do livro, muitas lições aprendidas teremos com clássicos e blockbusters escolhidos.
Proponho também o CLUBE DO ESPORTE. Aqui em casa a prática esportiva sempre foi uma disciplina obrigatória. “Escolham um e pratiquem” é meu mantra. Espírito de equipe, disciplina, amor próprio, respeito ao corpo e à saúde, sentimento de vencer e perder, aprendizado com erros, delegação de atividades e senso de autoridade são desenvolvidos com um clube desses. Ao ingressar no mercado de trabalho, alunos-atletas que foram federados ou praticaram esporte regularmente, vem muito mais preparados para iniciar sua carreira. Diversos soft skills já estão maduros.
O CLUBE DA ARTE é mais amplo. MÚSICA, TEATRO, ARTES PLÁSTICAS, LITERÁRIAS, etc. Alguma arte deve também ser proposta para o desenvolvimento criativo do futuro cidadão. Aqui o aprendizado de capacidade criativa e a disciplina são elevadas ao máximo. As técnicas devem ser aprendidas e disciplinadas, mas colocadas em obras sem receitas, nem certo e nem errado. Arte é arte, onde descobrem que há coisas na vida SEM LIMITES!
O CLUBE DA ESCRITA. Esse é mais avançado. Pode ser um diário, um livro, contos, mas proponho um clube de artigos (como esse) para começar. Com tantas ideias e conteúdo existentes, sinto uma amputação intelectual ocorrendo nessa era de posts curtos e momentos instagramicos. O clube organizaria as ideias com início, meio e fim, gerando e moldando grandes pensamento. Desenvolveríamos organização intelectual, desaceleração do pensamento, disciplina, superação de obstáculos (escreve-apaga-escreve-apaga-escreve-apaga...) e a alegria de cada um em ver sua criação finalizada.
O CLUBE DO CURSO é o que pratico e que, sem dúvida, há de ser aplicado em algum momento.
Hoje temos um canal como o MERCADO EAD que possibilita realizar um curso a qualquer momento e de qualquer lugar. Podemos categorizar alguns temas e propor a realização dos cursos curtos como algo complementar e mais atrativo as aulas escolares.
Mas para iniciar minha experiência que contarei a vocês daqui a alguns meses, o clube que vou pôr em prática como proposta inicial já está formado, mas sem cuidado com conteúdo nem formato: O CLUBE DO VÍDEO. Não tema você, que ouve seu filhos dizerem “tô vendo um vídeo”: eles vão ver vídeos mais que tudo. Então já propus ao meu filho que enviarei a ele vídeos curtos de 2-5 minutos com discursos, memórias, vídeo aulas, momentos esportivos, vídeo clips (os bons e com conteúdo artístico, claro) avançando para curta metragens um pouco mais longos com o tempo. Com esse clube espero discutir com ele as lições aprendidas, sentimentos, medos, percepções e dúvidas da vida. E assim como o clube do filme de Gilmour, espero que ele mantenha esse hábito de curiosidade contínua, debate construtivo, abertura das guardas, posicionamento de opinião, aceitação do erro e tantas outras habilidades que a escola não ensina em teorias de massa atômica, distinção de metais ferrosos e tantos cálculos que erramos no papel mas a máquina não erra mais há décadas.
Concluo esse curto artigo reforçando que a crítica e a proposta aqui apresentadas são construtivas e complementares ao ensino escolar. Podemos num futuro, reduzir aulas atuais e as substituir por CLUBES? Pode ser que sim.
Poderemos então ter melhores escritores, melhores leitores, melhores líderes, melhores atletas e, certamente, melhores pessoas, mais educadas e tendo prazer na educação, seja ela em filmes, livros, cursos ou quaisquer outras atividades.
Autor: Marcelo Motta Gato, casado, 3 filhos. Especialista em Operações de Vendas, formado em Tecnologia da Informação. Eterno leitor, compartilhador de conhecimento e de tudo o que faça o mundo melhor.
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