Há quem queira queimar na fogueira como se fosse livro de bruxaria e há quem queira indicar para o Prêmio Nobel de Literatura. Independente de qual seja a sua vontade, o certo é que este documento foi homologado e tem o prazo máximo do início do ano letivo de 2020 para que seja implementado em todas as escolas do país.
Mas afinal, o que é a Base Nacional Comum Curricular (BNCC)?
Como indicado no próprio site do MEC, é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica.
Indicado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9396/1996) para escolas públicas e privadas, ela define as aprendizagens essenciais da Educação Básica, a fim de promover a equidade no ensino ao determinar tudo que, no mínimo, o aluno tem direito a aprender.
A BNCC é a referência obrigatória para a construção curricular, sendo a escola e seu corpo docente os responsáveis pela definição das metodologias e abordagens para a construção do conhecimento e da competência a ser desenvolvida, a partir da realidade em que está inserida e do público que atende.
Por competência, a própria Base a define como sendo a “mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho”.
A Base tem como eixo estruturante 10 competências gerais, das quais vamos nos ater em uma delas, a “Cultura digital”, que visa “compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva”.
A tecnologia invadiu a escola sem pedir licença e trouxe grandes desafios aos profissionais da educação no uso dentro e fora de sala de aula, na canalização e filtragem das informações que bombardeiam o ser humano 24 horas por dia e na postura ativa e protagonista que ela oferta ao seu usuário.
Sobretudo, entendemos que o “x” da questão não seja resolvido simplesmente com uma aula no laboratório de informática uma vez na semana, mas (re)pensar como a
tecnologia modificou nosso modo de vida, nossa rotina diária e, consequentemente, também o ser e fazer educação.
Assim, queremos elencar três dos grandes desafios que a competência Cultura Digital tráz para além da nossa sala de aula:
1) Mudança de cultura
Como o próprio nome diz, é uma cultura, uma nova cultura, um novo modo de compreender as práticas educativas e também o mundo a partir das tecnologias digitais.
Dessa forma, entendemos que a cultura digital é também uma cultura de integração, de conectividade e de colaboração.
É a incorporação de novas linguagens e mídias, multimeios como ferramentas de intermediação de aprendizagem, multiletramentos, onde as tecnologias são incorporadas em novas práticas educacionais, mais abrangentes, mais relevantes, onde o aluno é protagonista, do seu aprendizado e da sua história.
2) Aluno protagonista
As metodologias ativas atuam a partir da realidade do aluno, dos problemas aos quais são expostos diariamente, num processo de ensino-aprendizagem que compreende o aluno como protagonista de sua história e, consequentemente, responsável pela resolução dos mesmos.
Cabe à escola adaptar seu currículo e propor novas construções pedagógicas e metodológicas que oportunizem situações de integração entre os conteúdos historicamente sistematizados e a vida real.
Ao professor, cabe a tarefa de instrumentalizar o aluno com os saberes necessários para intervir em sua realidade, a fim de que ele tenha um posicionamento crítico e efetivo diante da realidade em que está inserido.
É nesse viés que o mundo digital abre portas infinitas, conectando informações, pessoas, ferramentas, espaços e tempos, numa atitude de colaboração mútua.
3) Atitude colaborativa
Se a competência é uma ação específica diante de uma situação, você precisa mobilizar algumas habilidades (conhecimentos, atitudes e valores) para realizá-la.
Nesse sentido, a Cultura Digital enquanto competência mobiliza habilidades específicas, e o movimento colaborativo de todos os envolvidos no contexto educacional, entre professores e alunos especificamente na sala de aula, é uma delas.
As metodologias ativas trazem da Cultura Digital para a sala de aula a realidade interdisciplinar da vida fora dela:
● Aluno ativo e comprometido com o seu processo de construção de conhecimento; ● Alunos engajados e comprometidos com o próximo, com o outro, conscientes de que vivem em sociedade e que o bem comum é papel de todos e de cada um; ● Professor criativo e que utiliza metodologias ativas em suas aulas, que viabiliza, oportuniza e guia seus alunos em seu processo de emancipação humana por meio da educação; ● Professores pesquisadores, digitais, atualizados e conectados, com o mundo, com seus alunos e com seus pares, capazes de personalizar seu projeto político pedagógico e, consequentemente, seu currículo, à luz da realidade do mundo, da escola e dos alunos que estão sob sua tutela.
Os desafios estão postos e os limites e possibilidades dessa nova cultura digital precisam ser refletidas, discutidas e encaradas como oportunidades de melhoria dos nossos currículos e, mais do que em registros escritos, precisam resultar em melhoria de nossa prática pedagógica dentro de sala de aula.
E aí, como a Cultura Digital pode ser desenvolvida para além de sua sala de aula hoje?
Cristiane Silveira Cesar de Oliveira
Especialista em Educação a Distância e Neuropsicopedagogia Teóloga Designer Instrucional e conteudista EaD (Pedagogia e Tecnologias Educacionais) Coordenação Pedagógica e Gerenciamento de Projetos E-learning Link CV: http://lattes.cnpq.br/9927092818981221
MORÁN, José. Mudando a educação com metodologias ativas. Coleção Mídias Contemporâneas. Convergências Midiáticas, Educação e Cidadania: aproximações jovens, v. II, p. 15-33, 2015. Disponível em: <http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/uploads/2013/12/mudando_moran.pdf>. Acesso em: 23 set. 2019.
PARIS, Francisca (Org.) EDUCA BRASIL 2019: Mudanças e Continuidades à Luz da BNCC. Curso online. Disponível em: <https://www.educa-brasil.com/>. Acesso em: 23 set. 2019.
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