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Sala de Aula Invertida: você sabe mesmo o que é?

O ano de 2020 nos empurrou para o mundo digital sem dó, sem piedade. Alguns já com alguma bagagem, outros, a muito contragosto. O fato é que a essas alturas nós e nossos alunos já estamos prazerosamente envolvidos até o pescoço nas Tecnologias Educacionais e há quem diga (eu por exemplo) que não voltam mais atrás.






Só que agora está apontando logo ali o desafio número dois! Precisamos nos preparar para o retorno às nossas velhas e boas salas de aula presencial. O esperado 2021 chegou! Certo, mas e agora? Tem como abrir mão de todos os recursos bacanas que aprendemos a usar? E como fico agora sem meu Google Classroom, o querido Karoot e o bom amigo YouTube que me dava aquela força pra ilustrar conceitos complexos com maestria se as salas da minha instituição continuam analógicas? Pois é colegas, nunca mais seremos os mesmos. Ainda bem, não? Nos resta agora encontrar um meio termo: nem analógico, nem 100% digital, nem 8 nem 80.


É muito provável que você já tenha ouvido falar na Sala de Aula Invertida, ou Flipped Classroom ou Aprendizagem Invertida, certo? “Ah sim, uma das metodologias ativas!” Hum, mais ou menos. Segundo o professor Jonathan Bergman, um dos maiores estudiosos do assunto, do qual tive o prazer de ser aluna em minha especialização, a sala de aula invertida é a base para as demais metodologias ativas. Vamos falar um pouco mais sobre isso.


A sala de aula invertida é uma forma simples de transformar a aprendizagem passiva em um processo ativo”

Jonathan Bergman


Para quem já conhece e aplica, sabe que um dos princípios básicos da sala de aula invertida é que o professor pode usar o tempo presencial para se concentrar em estratégias de aprendizagem ativas. Não seria este o melhor uso do tempo de aula de um professor?


Grande entusiasta desta metodologia, o professor Bergmann repetia inúmeras vezes em aula que a essência do método é poder alcançar cada estudante! E como? Quando você deixa que o conteúdo seja a base prévia do momento presencial, há mais tempo para trabalhar com cada estudante, sentindo suas dificuldades, acompanhando seus avanços. As propostas de trabalhos em grupo permitem a instrução em pares, a aprendizagem baseada em projetos e tantas outras metodologias ativas que conhecemos, mas que muitas vezes são inviáveis, porque senão, você já sabe, não daremos conta do conteúdo previsto.


Não precisamos mais ensinar todo mundo do mesmo jeito! Daí, entramos na personalização da aprendizagem, tema para outro texto, claro, mas digo isso apenas para enfatizar que é sim possível trabalhar com turmas grandes ou pequenas e alcançar cada estudante se deixarmos a repetição da teoria como pré-encontro presencial.


E quanto à produção deste material? Professor Bergmann nos encoraja a produzirmos nossos próprios vídeos, textos e podcasts. Preferencialmente que sejam curtos e objetivos, com mensagens claras. Dá trabalho? Sim dá! Mas você terá a oportunidade de produzir seu próprio material didático que poderá ser reutilizado inúmeras vezes!


É claro, nada impede que por vezes você escolha boas fontes alternativas de apoio como vídeos de outros colegas que possam acrescentar, exemplificar de maneira diferente e tal, mas que isso não seja uma prática comum. Seu aluno quer ouvir você! Lembre-se que a maior vantagem de uma aula gravada é que o aluno poderá pausar e ver novamente, pausar e ver novamente, quantas vezes for necessário. E se não estiver atento naquele momento, poderá assistir mais tarde. E está aí a mágica da aprendizagem invertida! Cada estudante pode aprender no seu tempo, no seu ritmo! Se o professor não precisa mais ocupar o tempo precioso na presença dos alunos transmitindo conteúdo, ele pode estar lá, quando uma situação desafiadora de aplicação do que foi ensinado acontecer. Isso não faz todo o sentido?


Vejo alguns colegas professores lamentando a perda do status do professor nas metodologias ativas. Entendem que o protagonismo do aluno os coloca em segundo plano. Na minha experiência, esta é uma visão limitada da importância de um professor na aprendizagem ativa. Saímos do lugar de transmissores de conteúdo resumido para mestres que guiam o aluno nos desafios propostos. Não é muito mais instigante? Quantas vezes você, como estudante, levou uma tarefa para casa e não sabia aplicar o que foi explicado pelo professor em sala? Quem pode ajudar? O que fazer quando a situação é bem diferente do exemplo dado na aula presencial?


Bom, é essa a problemática que a sala de aula invertida resolve. É no momento que o aluno mais precisa de orientação que o professor e os colegas estão ali presentes. E toda a base já foi vista fora de sala, todo o tempo em conjunto pode ser usado para aplicar o conhecimento adquirido. Alison King diz que quando o estudante está envolvido em processos ativos de informações, aplicando em situações significativas, eles têm mais probabilidade de lembrar do que aprendeu e replicar em novas situações.


“Embora a ideia da sala de aula invertida seja objetiva, uma atividade de sucesso precisa de uma preparação cuidadosa. É fácil dar errado.”

John Bergmann


Não colega, não é fácil. Porque você, assim como eu, sabe que muitos alunos são tão conservadores quanto muitos de nossos colegas professores. Eles vivem a ambiguidade de querer sair da “mesmisse”, mas não da zona de conforto. A reação inicial pode ser de rejeição à ideia, mas acredite, é só inicial mesmo.


Ok, mas e se eles não fazem a sua parte? E se não assistirem os vídeos propostos, não lerem os textos indicados? Bom, nessa hora a avaliação formativa entra em cena. Lance mão de uma atividade avaliativa para o início da aula que tenha relação à proposta solicitada. O estudante que não realizou a atividade em casa, não poderá nem realizar a avaliação, tampouco participar da atividade colaborativa em sala. E o mais importante! Não dê aula aos que não aderiram. Siga o processo, e acredite, eles acabam cedendo em pouco tempo.


Resumindo em 3 frases, Sala de Aula Invertida é:

  1. Uma estrutura que permite aos educadores alcançarem cada aluno;

  2. Proporciona mais tempo de criação e análise;

  3. A base para outras formas e metodologias ativas.


Em contrapartida, ela não é:


  1. Mais uma metodologia ativa;

  2. Quando o professor grava suas aulas em vídeo;

  3. Uma meta-estratégia que sempre dá certo, para todo mundo, para qualquer assunto.


A aplicação do método exige estudo, planejamento e principalmente paciência. Regule expectativas e se permita experimentar. Se algo não correr como o esperado, reveja seu planejamento e tente novamente. Só aprendemos tentando, só melhoramos ajustando as tentativas. Vai valer a pena.


Espero que este texto tenha despertado em você a curiosidade em saber mais sobre aprendizagem invertida. Se estiver adequada à sua realidade, esta pode ser uma ótima alternativa de trabalho daqui em diante!


REFERÊNCIAS:

BERGMANN, Jonathan; SAMS, Aaron. Sala de aula invertida. Uma metodologia ativa de aprendizagem. RJ: Ed. LTC, 2019.


BACICH, Lilian; MORAN, José (Organizadores). Metodologias Ativas para uma Educação Inovadora: Uma Abordagem Teórico-Prática. Porto Alegre: Penso, 2018.


HABEGGER, Jake. “Flipped Learning… that’s the thing where you teach with videos, right?”. Disponível em <https://flr.flglobal.org/are-we-there-yet-has-everyone-flipped-their-classrooms/>. Acesso em: 21 dezembro, 2020.


KING, Alison. From sade from the stage to guide oh the side. Disponível em:<https://faculty.washington.edu/kate1/ewExternalFiles/SageOnTheStage.pdf>. Acesso em: 21 dezembro 2020.


LEAL, Adalva Araújo; MIRANDA Gilberto José; CASA NOVA, Silvia Pereira de Castro Casanova. Revolucionando a sala de aula: como envolver o estudante aplicando as técnicas e metodologias ativas de aprendizagem. São Paulo: Ed. Atlas, 2017.


ROBINSON, Ken. Do Schools Kill Creativity? Ted Talks, 2016. Disponível em: < https://www.ted.com/talks/sir_ken_robinson_do_schools_kill_creativity?language=pt-br#t-473190>. Acesso em: 21 dezembro, 2020.





Mestre em Ciências Ambientais pela Unisul,

Especialista em educação pela PUCRS.

Professora de EaD desde 2007.



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